SÃO PAULO, SP E AUTAZES, AM (FOLHAPRESS) – Apesar de ter melhorado seus índices de gravidez infantil nas últimas décadas, o Brasil segue acima da média mundial de partos precoces e bem distante das nações desenvolvidas. O quadro é especialmente delicado no Norte do país, mostra análise da Folha de S.Paulo. Com 4,72 gestações a cada mil meninas de 10 a 14 anos, a região supera em muito a taxa nacional (2,14) e aparece em situação comparável à dos países da África subsaariana, que estão entre os piores do planeta nesse quesito. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o índice global é de 1,54 e chega a apenas 0,1 na Europa e na América do Norte. Os dados nacionais se baseiam no Censo e no Sinasc (Sistema de Informações sobre Nascidos do Ministério da Saúde). Os números são de 2022, os últimos consolidados e que permitem tanto o cálculo das taxas quanto as comparações com o balanço mais recente da OMS.A gravidez antes dos 14 anos é considerada de risco para a vida da gestante. Além disso, no Brasil, a lei define qualquer relação sexual com menores dessa idade como crime de estupro de vulnerável.Em visita ao município de Autazes, a 112 km de Manaus (AM), a reportagem não teve dificuldade para encontrar meninas grávidas nas unidades de saúde e nas escolas.A cidade tem uma taxa elevada, de 12 partos a cada mil meninas. O Amazonas, por sua vez, não só registra um dos maiores índices do país como foi um dos únicos estados a apresentar piora na comparação com o início deste século, com aumento de 4,5%.Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, o problema tem diversas causas, como o início prematuro da vida sexual aliado à falta de informação ou baixa adesão a métodos contraceptivos, além dos altos índices de violência sexual e da dificuldade de acesso a serviços de saúde. A pasta também informa que a incidência é maior nas camadas sociais mais pobres.Os números são ainda mais alarmantes em áreas isoladas no interior do estado, como nas microrregiões de Lábrea, Tefé e Eirunepé, cujo acesso depende de viagens de barco com mais de um dia de duração.Além do Amazonas, o Maranhão foi o único estado com aumento (1%) na taxa de gravidez nessa faixa dos 10 aos 14 anos em relação ao ano 2000. Mas o cenário geral ainda é preocupante.Embora todas as grandes regiões tenham apresentado evolução no período, apenas o Sul e o Sudeste aparecem abaixo da média mundial. Ainda assim, bem acima do patamar europeu.Em números absolutos, os partos tiveram uma leve queda de 28.967 para 27.048 entre os anos de 2000 e 2010. Depois, foi registrada uma redução acentuada, para 14.293 no ano retrasado.Na comparação entre os Censos, porém, houve diminuição considerável no total de meninas dessa faixa etária. Em termos proporcionais, a taxa caiu de 3,38 para 2,14 gestações a cada mil garotas (37%) em pouco mais de duas décadas.O Distrito Federal apresenta a menor incidência entre as unidades da federação (0,94), seguido de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Paraná, todos esses abaixo da média mundial. Os outros 21 estados continuam acima, com taxas variando de 1,65 no Rio de Janeiro a 6,26 em Roraima. A análise detalhada das microrregiões também mostra o Norte como destaque negativo. No ranking das dez piores, oito estão nos estados de Roraima, Acre, Amazonas ou Amapá, com índices entre 9,4 e 15,6 partos a cada mil meninas. No geral, 331 das 510 localidades estão acima da média mundial.
Gravidez precoce no Norte do Brasil tem índice comparável ao da África subsaariana
8